Todo mundo já assistiu a histórias clichês. Aquela que só pelo cartaz do filme ou pelo resumo rápido, já dá para saber quem vai terminar com quem e qual vai ser o casal principal da trama.
E é claro que esse tipo de conteúdo, seja em filme, livro ou série, é muito rejeitado por algumas pessoas. Eu costumo chamar de a mania do pseudo-cult. Mas não dá para negar pu ignorar que para outra imensa maioria, os clichês trazem um conforto, uma identificação e, até mesmo, um pingo de esperança!
Afinal de contas, é preciso lembrar que histórias clichês criaram a sociedade que conhecemos hoje e, neste caminho, deixaram de fora muita gente. Será que não é hora de rever esses clichês marginalizados?
O que muita gente não fala e não presta atenção é o poder que o clichê tem! Duvida? Vamos ver…
As histórias clichês como molde da sociedade
O que veio primeiro? As princesas da Disney ou uma sociedade heteronormativa que busca padrões inalcançáveis? A verdade não importa. As grandes histórias cheias de clichês fazem parte de como enxergamos e idealizamos a sociedade ao nosso redor.
Por anos, os casais se inspiraram em diversos filmes românticos que exibiam grandes gestos que demonstrassem o amor. Casais heterossexuais, é claro. Porque se os clichês moldam a sociedade, é inegável que eles são voltados para uma sociedade heteronormativa.
Se podemos falar de clichês LGBTQIA+ é que alguém morre no final, o casal não fica junto ou eles só conseguem se relacionar após passar o pão que o diabo amassou em forma de homofobia.
Isso é mentira? Os filmes e livros inventaram isso? Não! De forma alguma! Mas os filmes e livros perpetuaram essa visão na nossa sociedade.
Pensando assim, fica claro que ainda é importante falarmos de clichês! E mais do que isso, é essencial termos clichês, especialmente aqueles que trazem mais representatividade para a nossa sociedade!
O clichê LGBTQIA+ também é representatividade
Por anos, anos e anos, toda a comunidade LGBTQIA+ precisou lidar com os clichês que os excluíam. Talvez muitas meninas tenham achado linda a cena do Heath Ledger cantando nas escadas da escola em “10 coisas que eu odeio em você”, mas achar lindo é uma coisa. Se visualizar naquela situação é outra.
Eu, inclusive, achei a cena linda, mas não conseguia me ver ali, já que aquele casal não me representava.
Então, vem comigo desvendar esse fio… além de encontrar muita, mas muita homofobia, resistência e preconceito na vida real, todo conteúdo de entretenimento ignorava a existência de uma comunidade LGBTQIA+. A sensação de meninas e meninos que passavam a tarde assistindo os filmes da “Sessão da Tarde” é que nunca encontrariam o amor, ao menos, não aquele amor das telinhas.
Os clichês perpetuavam a ideia de que só funcionava se fosse um casal heterossexual dentro de um padrão de beleza. Pessoas magras, brancas, bem sucedidas, com família de comercial de margarina e o sonho de ter filhos.

E, assim, quem não se encaixava nesse padrão não só vivia à margem da sociedade, mas também tinha o direito de sonhar negado. Não conseguia idealizar um amor perfeito, desses que vemos na televisão e nos filmes. Crescemos acreditando que o amor não era para gente, que se apaixonar era um direito de poucos, de um grupo seleto de pessoas.
E esse é o porquê nós ainda precisamos de histórias clichês!
Nós queremos nossos clichês. Nós ainda queremos nos ver em filmes bobos, água-com-açúcar com finais previsíveis e felizes.
Já passado meus 30 e poucos anos, talvez não acredite mais em histórias perfeitas e amores à primeira vista, mas ainda me emociono com filmes previsíveis onde duas mulheres se conhecem, se apaixonam e terminam juntas, mesmo que eu já soubesse disso desde o primeiro minuto.
Ainda procuro ler e escrever livros de romance que tragam a história de como duas mulheres que não se gostavam, passam a se conhecer e se apaixonam e surpreendem a todos quando aparecem como um casal.
Eu ainda quero histórias sobre mulheres que são amigas com benefícios e por passarem tanto tempo juntas, descobrem que tem muito mais em comum do que imaginavam e ficam juntas no final!
Deixem os clichês existirem em paz! Especialmente aqueles que estão reparando anos e anos de omissão e invisibilidade de toda uma comunidade.